Este blog foi criado para contar a história de bravura deste lindo anjo.
João Pedro nasceu com Hérnia Diafragmática Congênita (HDC) e permaneceu neste plano por apenas 28 horas. E neste pouco tempo que ele passou por aqui, deixou um linda lição de amor, força e garra.
Ele é com certeza um Anjo Guerreiro.


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

02 de dezembro de 2010 - O dia mais feliz da minha vida

Eram 4:50 da madrugada, eu estava dormindo, quando de repente tive a sensação de estar fazendo xixi. Me acordei num susto, dei um pulo da cama e percebi que na verdade era a bolsa que tinha estourado. Dei um grito pro Amaral, que acendeu a luz e já me disse “fica calma”. Eu estava calma. Coloquei as mãos na minha barriga e falei “filho, não era pra ser agora. Que Deus nos proteja.” A primeira coisa que fiz foi olhar a cor do líquido. Era clarinho como água, e isso me deixou tranqüila. Isso foi um dos benefícios de ter feito o cursinho de gestante.

Fui para o banheiro, deixei o excesso de líquido escorrer e entrei para o banho. Enquanto isso o Amaral ligava pros meus pais. Quando meu pai atendeu o Amaral “Aerton, teu neto quer nascer”, e meu pai ainda dormindo perguntou “mas tem que ser agora?” Ele não se deu conta do que estava acontecendo. Então o Amaral teve que explicar que a bolsa tinha rompido e que nós teríamos que ir imediatamente pro hospital.

Assim que o Amaral desligou, pedi a ele que ligasse para minha obstetra. Por incrível que pareça eu estava muito calma, calma como nunca estive em toda minha vida. Acredito que uma força superior esteve ao meu lado o tempo todo, pois eu não parecia eu mesma. O Amaral ligou pra minha obstetra e chamou até cair. Saí do banho, me vesti e liguei pro outro celular dela. Também chamou até cair. Insisti de novo ligando pro primeiro número e chamou até cair, então deixei mensagem de voz, avisando que minha bolsa tinha rompido, que eu estava indo pro Moinhos e que era pra ela me ligar.
Liguei então pro Moinhos, avisando que eu estava saindo de casa e que era pra irem preparando tudo.

Logo meus pais e minha irmã chegaram. Estavam nervosos e ficaram espantados com minha calma. Pedi que durante o caminho minha irmã fosse tentando contato com minha obstetra. A Glaucia foi ligando desde que saímos de casa até chegarmos no Moinhos (cerca de 40 minutos depois que a bolsa rompeu) e o celular da minha obstetra só chamava até cair. Eu estava começando a ficar preocupada. Minha irmã deixou mensagem de texto avisando o que estava acontecendo e pedindo pra ela retornar.

Chegando no Moinhos, prontamente me encaminharam para a maternidade. O Amaral me acompanhou enquanto meus pais ficaram fazendo minha ficha.

Lá na maternidade me deitaram em uma maca e colocaram um aparelho para monitorar os batimentos do João Pedro. Em seguida veio uma enfermeira e perguntou se eu já tinha avisado minha obstetra. Eu disse que estávamos tentando mas ela não atendia. Passamos então os celulares da Dra para que as enfermeiras fossem tentando fazer contato com ela. Dali há pouco veio outra enfermeira perguntando quem era o pediatra neonatal do JP. Expliquei que ainda não tínhamos pois o Dr Lionel é quem veria isso pra gente quando eu estivesse na 35ª semana. Pedi que elas ligassem pra ele, mas parecia até que elas era inexperientes, pois não atinavam a fazer as coisas. Eu estava ali na maca, impossibilitada de tudo e ainda sim era eu quem tinha que pensar no que fazer.

O tempo foi passando e eu comecei a ficar angustiada, pois ninguém me falava nada concreto, apenas me perguntavam coisas. Uma das enfermeiras veio e me disse que não estavam conseguindo contato com minha obstetra e teve a cara de pau de me perguntar como iríamos fazer já que ela não estava atendendo. Eu é que tinha que saber????? Daí eu já tava irritada e falei que obstetra era o de menos, que podia ser o obstetra de plantão do hospital mesmo. Aí ela me disse que o hospital não trabalha em sistema de plantão de emergência. Que o obstetra que tinha no hospital não era autorizado a fazer parto. Pronto, me apavorei. Já estava há quase duas horas com a bolsa rompida e não tinha ninguém que pudesse tirar o João Pedro de dentro de mim. Mas Graças a Deus logo veio até mim uma enfermeira já mais experiente e me disse pra ficar tranqüila que tudo ia ser resolvido. Aí depois disso era só ela que falava comigo.

Um tempinho depois essa enfermeira veio e me disse que o Dr Lionel havia  chegado e que já ia resolver a questão de quem seria o pediatra que participaria do parto. Mais um tempinho ela veio e me disse que desistiram de contatar minha obstetra pois ela não atendia e que chamariam um médico credenciado com o hospital e que atendesse pelo meu plano. De vagarinho as coisas começaram a se ajeitar.

Na sala de preparo.
Deu sorte da câmera estar na minha bolsa. Com a correria não íamos lembrar de pegar.

Comecei a sentir contrações e elas iam diminuindo o espaço de tempo entre uma e outra. Fiquei assustada, pois o João Pedro não poderia chegar antes de toda a equipe estar preparada.

Logo chegou o Dr Arlindo, obstetra que tinham chamado. Ele veio, se apresentou e perguntou algumas coisas sobre minha gestação para que ele pudesse ter idéia do que tinha pela frente.

Na seqüência as Dras Elizabeth e Betânia, pediatras neo que receberiam o João Pedro, vieram conversar comigo e com o Amaral. Elas vieram cheia de cuidados me avisar que eu não poderia vê-lo assim que nascesse pois teriam que levá-lo para a UTI. Eu disse pra elas não se preocuparem comigo, pois eu estava ciente de tudo e que eu queria que elas fizessem o melhor pelo meu filho.

Eu sabia e estava ciente de toda a dificuldade da situação e sabia também que com a prematuridade tudo era mais agravado, mas em momento algum eu pensei que algo daria errado. Eu estava tão otimista, confiante e tinha certeza que o  melhor aconteceria. Tenho certeza absoluta de que nossos anjos da guarda estavam presentes e iluminaram nosso momento.

Estava tudo pronto. Era perto das 8hs da manhã quando me levaram para o bloco cirúrgico. Me prepararam e então chamaram o Amaral. Eu não estava sentindo nada, mas de repente o Dr Arlindo disse “pai, levanta que o João Pedro vai nascer”. O Amaral levantou, e logo eu ouvi dois chorinhos. Dia 02 de dezembro de 2010, 8h 05min... Pronto, eu era mãe. Lembro de ter conseguido balbuciar as palavras “seja bem vindo meu filho”, mas as lágrimas e a emoção não me deixavam fazer mais nada. Naquele momento consegui entender o que minhas amigas me diziam, que na hora que nasce a gente cria um sentimento jamais experimentado, diferente de tudo que já vivemos. Foi como se uma tempestade de coisas boas tivesse passando pelo meu corpo. Senti tanta coisa junto que nem sei explicar. Isso tudo em fração de segundos.

Vi uma das pediatras passar com ele no colo e a outra disse pro Amaral que logo viriam chamar ele. Então o Amaral ficou ali comigo, nos beijamos e ele só conseguia me dizer “nosso filho é lindo” (estou chorando emocionada escrevendo isso). Ele repetiu isso varias vezes, até que vieram chamar ele pra ir acompanhar os procedimentos. Então eu fiquei ali só com os médicos, mas tinha certeza de que meu filho estava em boas mãos.  

O Amaral apertou o botão errado e ao invés de fotografar, acabou filmando.
Ainda bem que ele errou o botão. Assim consigo ter guardado o som do chorinho dele.

Para minha surpresa, minutos depois vejo o Amaral, o Dr Lionel e as pediatras vindo até mim com o João Pedro no colo. Não estava acreditando. Eu sabia que não poderia vê-lo e não estava entendendo o que ele estava fazendo ali tão pertinho de mim. Então uma das médicas disse “olha mamãe, quem veio te ver! Ele nasceu tão forte e pediu pra vir aqui conhecer a mamãe dele.” Fique muito emocionada. Estava ali na minha frente, um pedacinho de gente, sujinho, enroladinho numa mantinha, de toquinha na cabeça e com um caninho na boca (que era o aparelho de respiração). Era de verdade, era o meu filho que tinha nascido forte o suficiente pra quebrar as barreiras em vir até mim pra eu poder realizar o meu sonho de dar um beijo nele. Ele teve nota de apgar 8 e depois 8 de novo, considerado excelente diante de toda situação. Ver ele ali do meu lado confirmou o que já tínhamos visto na eco 3D: ele era a cara do Amaral, lindo de mais.

Tivemos tempo de bater algumas fotos juntos e o Amaral conseguiu registrar o lindo momento do meu primeiro beijo no meu filhote. Não consigo lembrar disso sem que escorram lágrimas. Foi a coisa mais emocionante da minha vida. Era real, estava acontecendo. Eu já estava conformada de que só poderia tocar no meu filho quando eu pudesse ir lá na UTI, mas tudo aquilo que eu sempre sonhei estava acontecendo. Era o melhor presente da minha vida.

Nosso primeiro encontro. O momento mais emocionante da minha vida.

A equipe. Dra Elisabeth, Dr Lionel e Dra Betânia.
Mesmo diante de toda difculdade, todos estavam sorrindo. 

As médicas então me disseram que tinham que levar ele pra continuar os procedimentos. Fiquei tranqüila. Estava tão feliz que nada me preocuparia.

Pesagem.
Tem que descontar 10g que é o peso da mangueirinha do respirador. 

O Amaral seguiu com elas e depois foi avisar minha família que estava aguardando na sala de espera. Um tempinho depois me removeram pra sala de recuperação e no caminho pararam pra que eu pudesse dar um tchauzinho pros meus pais pelo vidro.
Não lembro quanto tempo eu fiquei na sala de recuperação, e quando o Amaral vinha ficar comigo eu dizia pra ele voltar e ficar junto com o João Pedro.

Assim que me levaram pro quarto, bem depois do meio dia, eu perguntei pra minha mãe se a minha obstetra tinha ligado, e ela me disse que não. Fiquei indignada. Tudo bem ela não ter atendido e nem aparecido pra fazer o parto, ele poderia estar numa emergência e talvez não pudesse atender o telefone, mas eu esperava que pelo menos ela ligasse depois pra saber como estavam as coisas, mas isso não aconteceu.

Depois que fui pro quarto descansei um pouco, o Amaral ficava indo na Neo toda hora ver como ele tava e cada vez que vinha eu queria saber notícias. Logo fiquei sabendo o peso. Ele nasceu com 1,9Kg, e conforme o Dr Lionel, era um peso bom pra cirurgia. Cada vez que o Amaral ia lá vinha com uma fotinho, mas não tinha muita diferença, pois não tinha muito o que fazer. Me assustei um pouco quando vi que ele estava cheio de esparadrapos e tinha uma venda nos olhos, mas o Amaral me explicou que era pra que ele não reagisse com a claridade e não fizesse nenhum esforço. Percebi que o tórax dele era mais alto que o abdome. Situação normal para um bebê com HDC.

Lá na UTI Neo, cheio de coisas.
Dá pra perceber que o torax é maior em relação ao abdome. 

Na noite anterior, quando eu saí do Boa Nova, eles me pediram que eu desse notícias sempre, parecia até que eles sabiam o que ia acontecer. Então depois que eu estava sem efeito da anestesia eu liguei contando que o JP tinha nascido, que estava na UTI e que em breve ele passaria por uma cirurgia. A pessoa que me atendeu me disse assim “quando tu for lá na neo, tu conversa com o João Pedro, mas não com aquele que tá lá na incubadora. Conversa com o João Pedro grande, aquele que ta do lado do bebezinho olhando por ele. Fala pra ele que tu ama muito ele e que Deus vai fazer o que é melhor.” Agradeci e disse que daria notícias sempre.  

O Amaral foi fazer as correrias. Foi no cartório registrar ele, depois foi no meu trabalho encaminhar a papelada pro plano de saúde e passou em casa pra buscar roupas, já que ele ia passar a noite comigo no hospital. Logo que ele saiu começaram a chegar as visitas. Além dos meus pais e minha irmã que já estavam lá, chegou a minha amiga e comadre Vivi (dinda do JP), minhas cunhadas e meu sogro com sua esposa. Todos muito felizes com a chegada do nosso guerreiro. As dindas estavam todas lá, disputando pra quem iria ver as fotinhos primeiro.

Tempos depois o Amaral chegou de volta com flores pra mim. Eram flores do campo, lindas, e tinha um cartão que falava da felicidade dele em estarmos formando a nossa família. Ele me mostrou todo orgulhoso certidão de nascimento: JOÃO PEDRO DO AMARAL DA SILVA. Escolhemos este nome porque meu sobrenome é Pedro, então queríamos algo que combinasse. Acabou que Pedro virou parte do nome e colocamos os dois sobrenomes do Amaral. JOÃO PEDRO, que nome lindo, forte... Nome de gurizinho arteiro.

Mais de noite as visitas foram embora e eu pude levantar da cama. Eu estava ansiosa pra levantar e poder ir ver o JP. O Amaral me deu banho e eu pedi pra enfermeira uma cadeira de rodas pra ficar mais fácil a minha locomoção. Mas ela demorou demais e eu resolvi ir caminhando mesmo. Fui a passos de tartaruga, mas se pudesse eu ia correndo.

Chegando lá na porta da neo, é preciso apertar a campainha e se identificar. Achei tão lindo quando o Amaral disse “somos os pais do João Pedro”. Era lindo e estranho ao mesmo tempo. Ainda não estava acostumada com a idéia.

Entrei e queria ir direto pra perto dele, mas ainda tinha o ritual de colocar avental. Demorou um pouquinho mas enfim consegui chegar até meu gurizinho lindo. Meu Deus, ver ele ali deitadinho, cheio de acessos, aparelhos apitando na volta, uma mangueira na boca e olhos vendados não era nada fácil. Olhava praquele anjo indefeso, tão pequeninho e sabia que eu não podia fazer nada por ele. Foi muito dolorido ver ele naquele lugar. Mas tentei me manter firme, precisava passar confiança pra ele. Então o Amaral me disse que as enfermeiras orientaram que quando nós fossemos tocar nele nós não deveríamos fazer carinho, apenas segurar para que não houvesse estimulação e esforço da parte dele. Como ele estava em maca aberta foi mais fácil de tocar nele e assim que peguei na mãozinha dele ele se mexeu e fez expressão de choro. Não saia som por causa do respirador que estava na traquéia dele, mas dava pra ver que ele reagiu à minha presença.

Segurei na mãozinha dele, beijei, fiquei olhando, rezei, falei com ele, disse o quanto eu o amava e que sabia que ele era muito forte pra sair dali. Olhei o corpinho dele e vi que o coração batia do lado direito, mas mesmo assim fiquei feliz, pois estava vendo o coração dele bater. Tinha medo de fazer tudo o que eu queria pois não sabia se seria bom pra ele, não queria estimulá-lo e deixá-lo agitado.

Pedi que o pediatra de plantão viesse pra falar comigo e em seguida ele chegou. Perguntei como era o estado do João Pedro e ele nos disse que dentro das condições que tínhamos, o quadro dele era excelente, que estava aceitando bem os medicamentos e aparelhos e que na manhã seguinte o cirurgião deveria vir avaliar as condições dele pra cirurgia. Me disse também que pra um bebê de 34 semanas ele nasceu grande, com 43,5 cm. Fiquei bem empolgada, pois isso era um bom sinal. Mesmo sabendo que podia existir o chamado período de lua-de-mel (que é quando acontece uma melhora ou boa reação aos procedimentos, mas logo adiante as coisas podem piorar), eu estava muito confiante. 

Como já era tarde e eu estava com um pouco de dor, resolvemos voltar pro quarto e deixar o JP descansar pra se adaptar bem. Dei um beijo nele e disse pra ele ficar com os anjinhos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Mensagens de outro plano

Na segunda-feira dia 29/11 era a nossa última participação no grupo Mãos Dadas lá no Boa Nova. São somente quatro participações e depois é preciso pegar uma nova orientação para ser encaminhado para um grupo específico.

Naquele dia eu estava muito chorosa. Eu tinha passado o dia escolhendo músicas para colocar no álbum digital do nosso book fotográfico e a cada música linda que eu achava eu me desmanchava chorando. Cantava as músicas pro João Pedro e ao mesmo tempo sentia um medo de que ele não quisesse ser meu filho.

Quando descobrimos a HDC eu tentei procurar a paz e tranqüilidade em todos os meios, um deles era a leitura. Eu estava lendo o livro “Nossos Filhos são Espíritos” de Hermínio C. Miranda, e neste livro explica que muitas vezes quando há abortos espontâneos ou muitas dificuldades em uma gestação, pode ser que seja porque o espírito destinado ao bebê não queira permanecer junto desta família. Os motivos pra isso são diversos: mãe e filho ou pai e filho podem ter sido desafetos em outras vidas, o espírito pode ter medo de voltar ao plano terrestre, pode estar acomodado no plano superior e não querer ficar na terra, pode ter medo de enfrentar os desafios aos quais se comprometeu, entre outros vários motivos... E diante de tudo que já tinha acontecido na minha gestação, eu estava com muito medo que o João Pedro não quisesse ficar comigo, e por isso sentia uma necessidade imensa de mostrar pra ele que ele era bem vindo e que eu o amava.

Durante a palestra eu chorei muito, quase tive uma crise ansiedade, pois me faltou o ar e eu não conseguia respirar. O Leandro e a Léia me deram um passe espiritual durante toda a palestra. Quando acabou eles vieram conversar comigo e o Leandro me disse que agora que eu já estava no 8º mês da gravidez era pra eu ter mais cuidado ainda. Que toda essa ansiedade e medo que eu sentia poderia não ser bom. Ele disse que sabia que eu precisava tirar outra orientação mas que eu deveria deixar que o Amaral fizesse isso, que era pra eu ficar em casa, sem fazer esforço, sem me abaixar nem subir escadas. Que eu tinha que repousar pra que o João Pedro não corresse o risco de nascer antes do tempo. Eu já tava achando um exagero toda semana ele me dizendo isso, que eu tinha que cuidar pro JP não nascer antes. Eu nem cogitava essa hipótese, já que agora a minha gravidez seguia saudável. Mas tudo bem, ouvi o que ele me disse mas não segui à risca as recomendações. Claro que eu não abusava no esforço, afinal eu já estava com 33 semanas, mas também não deixava de fazer minhas coisas.

No dia 30/11 era dia de orientação no Boa, então fomos lá. Por algum motivo especial, acharam que nós precisávamos de uma orientação individual. Então lá fomos eu e o Amaral pra uma salinha com duas trabalhadoras da casa. Lá nós conversamos, contamos o que nos levou a casa pela primeira vez e explicamos sobre a HDC do João Pedro. As duas trabalhadoras se olharam e mandaram chamar a Dona Gilda. Dona Gilda é a diretora da casa, uma pessoa iluminada que tem uma missão maravilhosa neste plano, e não é qualquer pessoa que consegue uma orientação com ela.

Assim que a Dona Gilda chegou ela pediu que eu fosse no Boa Nova pra fazermos uma cirurgia espiritual no João Pedro. Marcamos para dia 02/12. Depois que marcamos a data, ela nos encaminhou para uma seção de emergência individual. Eu não sabia o que era essa emergência, mas ficamos aguardando sem imaginar o que estava por vir.

Eu já tinha lido no “Livro dos Espíritos” que durante a gestação, o espírito de um bebê fica ligado ao corpo através de um laço fluído (cordão de prata) e que este laço vai se encurtando até o momento do nascimento, onde acontece a união definitiva do espírito à matéria. Portanto, enquanto o bebê ainda está sendo gerado, há possibilidades do espírito dele se manifestar, se houver permissão, é claro.

Entramos na salinha de emergência espiritual e lá tinha o coordenador da seção e mais 6 médiuns. Pediram pra que eu e o Amaral sentássemos um ao lado do outro, nos deram papel e lápis e disseram que se ao longo da seção nós tivéssemos vontade de escrever poderíamos fazer. Eu não estava entendendo nada, não imaginava o que iria acontecer.

Então estávamos todos concentrados e o Sr Flavio iniciou a seção. De repente senti minha barriga mexer e em seguida pareceu ter murchado. E para nossa surpresa, logo ouvi uma voz de criança, meio que chorando, dizer Eu to com medo... Eu tava num lugar cheio de crianças e agora eu to nesse lugar que eu não sei onde é. Toda hora ela tem que ir no médico comigo, e tem que tomar tanto remédio...” Pronto, tive a certeza absoluta de que era o espírito do João Pedro. Naquele mesmo dia eu tinha comentado com minha psicóloga que não agüentava mais ir ao médico e tomar remédios.

Comecei a chorar de emoção. O João Pedro estava se manifestando através de uma mulher e era notável que a vós dela estava diferente, como se fosse mesmo uma criança assustada. O Sr Flávio seguiu a seção e fazia várias perguntas ao espírito e cada vez mais eu tinha a certeza de que era o meu João Pedro, pois as respostas que ele dava eram de coisas que só eu e o Amaral tínhamos vividos com ele. Nos 10 minutos em que ele se manifestou, as frases mais marcantes foram:

“eu tenho medo que eles pensem que eu sou um fraco, que eu não vou agüentar”

“eu sei que eles tão organizando tudo direitinho pra quando eu chegar”

“só queria ter certeza de que eu to fazendo tudo certinho”

“eu não queria colocar a vida dela em risco, mas toda hora ela tem que ir no médico”

“eu sei que ela me ama, e eu amo muito ela também, mas eu tenho medo de ir porque depois eu não vou mais ver eles”

O Sr Flávio disse a ele que ele não precisava ter medo, que a gente o amava muito e estávamos ansiosos pela chegada dele. Então ele perguntou: “posso ir mesmo?” Eu então comecei a escrever e responder as coisas que ele perguntava. Disse que ele não era um fraco, que eu o amava de mais, que eu tava esperando muito a chegada dele, que eu ia ser uma ótima mãe e que sonhava em ter ele nos meus braços. O Amaral também escrevia coisas pra ele. Pra finalizar a seção o Sr Flávio disse pro espírito do João Pedro que ele devia ir lá avisar o vovozinho que cuidava dele que ele ia vir pra ficar com agente, então ele respondeu “Tá bom, eu vou lá falar com ele. Tchau mãe, tchau pai.”

Assim que o espírito do João Pedro se despediu, senti novamente a minha barriga dar um salto e ficar se mexendo. Na seqüência outra médium recebeu um espírito de criança que dizia assim “vai dar tudo certo com meu amiguinho” “eu queria tanto uma família assim como a dele, que me amasse de verdade” “se eu tivesse uma família assim eu ia pedir um monte de coisa, até coisa de comer”. A médium que estava recebendo o espírito, se levantou e abraçou minhas pernas por baixo da mesa e beijava meus pés dizendo que ia dar tudo certo.

Eu não tinha vivido em minha vida um momento de tanta emoção como esta. Claro que quem não acredita na doutrina espírita vai achar que tudo isso é bobagem, mas pra quem viveu este momento, não tem como não acreditar.

Eu chorei muito, estava muito emocionada, tão emocionada que não tinha percebido que enquanto o “amiguinho” do João Pedro se manifestava, 3 médiuns estavam psicografando e no final da seção eles me entregaram as cartas. Elas diziam assim:

“Eu sei que escolhi vir agora, não sabia que esta caminhada tinha tantos percalços, mas tenho certeza do amor de vocês por mim e quero que saibam que amo muito vocês. Amo vocês, amo vir junto de vocês. Tenho certeza que o amor de vocês me dará o perdão e por isso amo vocês ainda mais e acredito que com tanto amor juntos venceremos tudo isso. Paz, luz, saúde e um ótimo momento...”

“A minha chegada será com muita luz, amor, carinho, felicidade. Tudo será da melhor forma possível, tenha fé no Pai maior, e tranqüilidade no coração. E vamos para as festas com muita felicidade e saúde a todos. Um abraço mamãe e papai, do Joãozinho.”

“Te amo mamãe, tu também papai. Fiquem tranqüilos que tu vai ficar bem. Eu vou fazer a minha parte e nós vamos ter proteção dos meus amiguinhos aqui do céu. A gente vai conseguir. Fiquem com Deus, logo estarei com vocês aí. Um beijão com amor, João Pedro.”

Nossa, ter essas cartinhas na minha mão não tem preço. Isso me deu uma alegria, uma certeza de que tudo estava resolvido. Só que eu fiquei tão encantada com a possibilidade de ter tido contato com meu filho que esqueci de prestar atenção nos detalhes...

No dia seguinte, acordei tão feliz e resolvi que ia lavar as roupinhas dele, mesmo sabendo que ele não poderia usar nada no início, mas eu queria deixar tudo arrumadinho. Lavei as roupinhas e fiquei encantada de ver elas estendidas no varal que até bati foto. Senti uma felicidade de ver aquele monte de roupinha pendurada, fiquei imaginando que dali pouco tempo essa seria uma das minhas tarefas: lavar roupinhas de bebê.


Vindo do trabalho o Amaral me pegou em casa para irmos no mercado, pois eu tinha que fazer as compras para o chá de fraldas. Comprei muitos refrigerantes, caixinhas de chá, pratos e copos descartáveis, tudo para a festinha.

De noite fomos novamente no Boa Nova, pois aquele seria o nosso primeiro dia no grupo das gestantes. Grupo Caminhos de Luz, onde é feito apenas meditação e concentração de energias para as grávidas. Lá eu me concentrei muito pensando no João Pedro e jogando energias positivas pra ele. Na verdade eu queria que ele tivesse se manifestado novamente, então por diversas vezes eu mentalizava “Filho, a mãe queria muito que tu te manifestasse de novo, se tu tiver permissão. A mãe ia adorar que tu viesse falar com agente.” Mas naquela seção, o espírito dele não se manifestou. Em compensação na madrugada...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Dias felizes

Tudo estava encaminhado: cirurgião escolhido, hospital definido, autorização para minha gineco ir no hospital... que mais eu poderia fazer? Nada. Tudo que estava ao nosso alcance já estava feito, e o melhor, com tempo sobrando. Só que eu estava ansiosa de mais, cheguei a ter crises de ansiedade de tão nervosa que eu estava. Pra me acalmar eu freqüentava toda semana a casa espírita Boa Nova.

Lá no Boa nós participávamos do grupo Mãos Dadas – Estrela Guia. Este é um grupo leve, para pessoas que estão iniciando sua caminhada junto à doutrina espírita. Mas pra mim esse grupo foi como uma terapia. A cada semana era uma nova lição. O Leandro (coordenador do grupo) falava coisas que se encaixavam  perfeitamente na minha situação e eu me perguntava “como pode ele me falar tantas coisas sem saber de nada?”. Um belo dia ele e a Léia (trabalhadora do grupo) sentiram que eu estava ansiosa e pediram que eu ficasse um pouco mais. Então nós ficamos sozinhos na sala e o Leandro me disse (sem saber de nada) “mãezinha, essa ansiedade toda que tu ta sentindo não é tua, é do teu bebe. Ele ta tão ansioso pra vir te conhecer que acaba te deixando ansiosa também”. Não fiquei encucada com aquilo, pois me pareceu que ele estava simplesmente querendo me acalmar, pois eu já não agüentava mais as pessoas dizendo que eu tinha que ficar calma, que eu podia passar isso pro bebê e blábláblá... Mas tudo bem. O Leandro e a Léia me deram um passe espiritual e eu saí de lá como se eu fosse outra pessoa. Senti uma tranqüilidade, uma certeza de que eu estava fazendo o melhor e que não tinha mais o que eu pudesse fazer a não ser deixar que Deus fizesse a sua parte. Decidi então que não ia deixar nada mais me preocupar e que não ia perder os últimos momentos do João Pedro na minha barriga pensando no que ainda não tinha acontecido. Não ia mais sofrer por antecipação e ia dedicar todo o meu tempo ao JP.

Passei então a conversar mais com ele e ele passou a me responder mais. Claro, a medida que ele ficava maior os movimentos eram mais percebidos. A gente conseguia brincar. Eu fazia carinho na minha barriga e chamava ele e logo ele se mexia. Era certo, bastava cutucar ele e ele respondia. Coisa mais querida.

Decidi que ia fazer chá de fraldas, que até então eu nem pensava, pois já tinha tudo. Mas achei que seria uma ótima recordação pra mostrar pra ele depois. Organizei tudo, seria para poucas pessoas no dia 11/12 na casa dos meus pais à beira da piscina. Fiz os convites em casa mesmo e ficou coisa mais bonitinha. Fiz as lembrancinhas também. Era um pacotinho de chá com a fotinho dele e junto eu daria um saquinho com biscoitinhos amanteigados. As brincadeiras estavam elaboradas. Nisso minha irmã ajudou.  Cada convidada deveria levar uma foto sua quando bebê e ao invés de eu tentar acertar o que era o presente (seriam só fraldas) eu teria que acertar quem era a pessoa da foto. E as brincadeiras seriam sorteadas, pra não ter aquela coisa de pinturas em exagero. Eu já tinha feito uma montagem de fotos da eco 3D para mandar imprimir em uma camiseta que eu usaria no dia do chá e as pessoas que fossem deveriam assinar a camiseta deixando um recadinho por JP. Queria mostrar tudo isso pra ele quando ele crescesse.  Não tem como eu escrever isso sem deixar as lágrimas caírem. Era tanto amor e tanto carinho.... Mas vamos lá...

Esse era o convite do chá de fraldas.

Eu não queria mais deixar passar, queria fazer as fotos para o book de gestante imediatamente. Então consegui agendar no Studio Foto Rocha em Sapucaia para irmos no final de novembro. Lá fui eu organizar as coisas de novo. Eu não queria essas fotinhos comuns, queria algo diferente, então fui pra internet pesquisar poses e modelos para ter idéias do que fazer. No dia das fotos fui no cabeleireiro arrumar minhas madeixas, mandei nosso cachorro pra pet para tomar banho, pois ele iria junto pro Studio, passei na floricultura pra comprar pétalas de rosas e margaridas e em casa arrumei uma mala com roupas (nossas e do João Pedro) e alguns brinquedinhos dele. Queria tudo muito personalizado, algo que lembrasse um momento só nosso.

Chegamos no Studio e logo começaram a me maquiar. O Tião (nosso cachorro) ficou muito agitado com tantas coisas a sua volta então tivemos que fazer as fotos com ele primeiro pra depois o Amaral levar ele embora. Foi um sacrifício, pois ele não parava quieto. Mas eu não abria mão dele estar junto pelo menos em uma foto, afinal, ele era muito carinhoso comigo, me protegia e sempre cuidava minha barriga antes de pular no meu colo. Ele sabia que tinha um irmãozinho a caminho. Lembro de quando descobrimos a HDC eu estava sozinha em casa e me deu uma crise de choro. O Tião saiu da casinha dele e veio até mim pra ver o que estava acontecendo. Quando ele me viu chorando, se desesperou e começou a me lamber toda, como se estivesse me fazendo um carinho, tentando me acalmar ou sei lá o que. E funcionou, pois eu fui me acalmando até que parei de chorar. Logo depois o Tião foi pra um cantinho do pátio e vomitou muito, achei que ele estivesse morrendo, entrei em pânico, mas graças a Deus não era nada, ele vomitou e ficou bem. Parece que ele quis tirar de mim aquele sofrimento que eu estava sentindo. E do jeito dele ele conseguiu.

Mas voltando as fotos... Fizemos algumas junto com o Tião e enquanto o Amaral levava ele pra casa eu fiquei fazendo algumas fotos sozinha. Logo o Amaral voltou e seguimos nossa seção de ensaio para o Paparazzi hehe, por que era isso mesmo que parecia. Tinham tantas fotos em poses sensuais que parecia um ensaio de revista. As mulheres do Studio estavam impressionadas com nossa disposição. Fizemos várias fotos onde eu estava nua. Eu andava sem roupas na frente delas normalmente, como se elas fossem minha mãe, e o Amaral andava só de cueca (não ia deixar ele ficar pelado no meio daquela mulherada). Nos sentimos tão a vontade que esquecemos a vergonha, e elas adoraram, pois disseram que sempre querem fazer fotos assim mas nunca ninguém se dispõe a fazer esse tipo de coisa. Muito pelo contrário, eu estava disposta a qualquer coisa por uma bela recordação com nosso filhote.

Foram duas horas de poses e flashes. No final o João Pedro (e eu) não agüentava mais. Ele se mexia tanto que em algumas fotos a minha barriga ficou muito pontuda de tão embolado que ele tava. Mas foi muito divertido, acredito que a seção de fotos foi um dos melhores momentos da gente com ele . Estávamos tão próximos, tão felizes que não passava nada de preocupação na minha cabeça.

Estas são as páginas do álbum-livro que mandamos fazer.









No final de semana seguinte era aniversário a Sofia, filha da minha prima Deisi. Aproveitamos a festinha pra fazer o sorteio do nosso amigo secreto de Natal. Há 19 anos minha família passa o Natal sempre junto, e desde lá temos a tradição de fazer amigo secreto na noite de Natal e este último ano tinha uma situação especial. Como aconteceu em 2 anos antes quando a Sofia nasceu, essa era a vez de todos brigarem pra ver quem tiraria o João Pedro. O meu primo Filipe, que seria um dos dindos do JP, estava, de brincadeira, oferecendo por R$ 50 o papelzinho com o nome do João Pedro se tirasse ele.... é a cara do Filipe isso hehe.    

Fizemos o sorteio do amigo secreto e eu fiquei mais um tempo curtindo a festinha da Sofia. Cheio de crianças, a maioria menino e eu não parava de imaginar que no ano seguinte seria eu que estaria organizando a festinha de 1 aninho do João Pedro. Já tinha tudo imaginado. Ia ser uma festança, pois passar por tudo o que ele passou mesmo antes de nascer era coisa de herói, e herói merece muita festa. A decoração seria do Shrek, pensava em fazer em lugar aberto, onde pudesse ter carrinho de pipoca, algodão doce, churros, cachorro quente, maçã do amor... tudo mais que possa ter em aniversário de criança. Assim que ele nascesse nós já íamos começar a  guardar dinheiro pra festa, pois ia ser uma festa de arromba.

Aquelas duas última semanas do mês de novembro foram especiais. Vivemos momentos de alegria, de amor e carinho. Passei muitos dias sonhando com um futuro perfeito, pra gente. Ficava imaginando como seria na nossa casa nova, porque até isso a gente fez... Vendemos a nossa casa e compramos uma com pátio maior pro João Pedro e o Tião terem mais espaço pra brincar. Enfim, vivemos naquelas duas semanas a felicidade que estava guardada desde o início da gestação. Foi muito bom, pois consegui ficar mais calma e só pensar em coisas boas.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Um anjo em nosso caminho

Seguindo a nossa busca pelo melhor para o nosso pimpolho, fomos até o consultório do Dr Lionel. Como eu disse, não estava levando muita fé, pois a especialidade dele era em Urologia pediátrica, mas fui mesmo assim só pra ouvir uma segunda opinião. Chegando no consultório eu ficava olhando as crianças que estavam aguardando pra consultar e não conseguia parar de imaginar o João Pedro naquela situação...

A sala de espera do consultório era bem simpática, me senti bem ali, e o JP também pois ele não se agitou como nas outras consultas. Quando entramos no consultório me deparei com um senhor de cinqüenta e poucos anos com um ar muito amigável. Reparei no ambiente e não pude deixar de observar que um lado da sala era cheio de bonequinhos, tinha uma mesinha com brinquedos, era como se fosse um quarto de criança, e do outro lado era a mesa do médico e atrás dele tinham prateleiras cheias de livros sobre cirurgia pediátrica. Isso me passou uma boa impressão.

Começamos nossa conversa com o Dr Lionel e como sempre eu saltei na frente falando sobre o problema e sobre o que eu sabia de HDC. Ele ouviu pacientemente e quando eu terminei de falar ele olhou pro Amaral e disse “e tu pai, quais as tuas dúvidas?”, ou seja, ele se importava com o que nós dois estávamos passando e não só com o bebê ou comigo, pois muitos se importam só com a gestante e esquecem que o pai também sofre com isso. O Amaral disse que nossas dúvidas eram as mesmas e que o que ele queria saber era tudo que eu já tinha perguntado.

O Dr pediu então que eu mostrasse a ecografia que identificava o problema. Observei que ele não se deteve apenas em ler o laudo do exame. Ele folhou as páginas e sorria a cada imagem que via (era a eco 3D). Senti muita sensibilidade da parte dele, e gostei disso. Me passou a certeza de que ele amava o que fazia. Talvez porque eu estava acostumada com minha gineco que nem olhava as fotinhos e não dava a mínima para o que eu estava sentindo. Bom, ele olhou os exames, calmamente levantou, pegou um livro da prateleira e foi direto na página sobre HDC, sem ficar pesquisando muito. Isso me agradou, pois percebi que o assunto não era desconhecido pra ele.

Ele nos mostrou o livro, falou sobre cada imagem, explicou como seria. Nos disse que assim que o João Pedro nascesse ele iria direto para a UTI Neo para ser entubado pois não poderia respirar sozinho. Disse que a cirurgia só aconteceria depois que o JP estivesse estável e respondendo bem aos equipamentos de respiração. Nos explicou que o período mais difícil era entre o nascimento e a cirurgia, ou seja, o período de estabilização, pois esse seria o período em que, mesmo com auxílio dos equipamentos, o JP usaria seus pulmões e precisaria um pouco de esforço para isso. Ele nos disse que se o pior acontecesse neste período, não seria a cirurgia que resolveria o problema. Enfim, com Dr Lionel tivemos uma nova aula sobre o assunto.

Ele pediu que eu não ficasse triste, pois como o JP teria que ir direto para a UTI Neo, eu nem poderia vê-lo assim que nascesse. Nessas alturas eu já não me importava mais com isso. Claro que fiquei sentida, pois sonhava muito com o momento em que meu filhote nascesse e colocassem ele em cima de mim pra eu ver, mas nesta situação o que mais importava era que ele fosse atendido imediatamente. Eu veria ele depois quando fosse na Neo.

Perguntei ao Dr Lionel qual hospital ele indicava e sem pestanejar ele disse “Moinhos de Vento”. Ele nos explicou que o Moinhos é o hospital como melhores condições de receber bebês de alto risco e principalmente, que lá tem todos os equipamentos que a patologia do João Pedro exigia. Expliquei pra ele que eu tinha tentando visitar o Moinhos para conhecer mas que tinham me barrado. Quando falei isso, na mesma hora ele pegou o telefone e ligou direto para a Dra Desiré, diretora da UTI Neo do Moinhos, mas ela não pode atender, então ele deixou recado para que ela entrasse em contato com ele. Ele queria conversar com ela para que ela autorizasse nossa visita ao hospital.

Expliquei pra ele que minha gineco não era credenciada com o Moinhos. Eu já estava desgostosa com o atendimento dela, mas achava complicado nessa altura da minha gestação trocar de obstetra, mas se fosse preciso eu trocaria. Afinal, o mais importante nesse caso era ter um bom cirurgião pediátrico, o obstetra era secundário. Então o Dr Lionel disse que quando falasse com a Dra Desiré, pediria pra ela uma autorização especial para que minha obstetra me atendesse lá no Moinhos independente de nós escolhermos ele como cirurgião.

Ele me disse que se nós ficássemos com ele como cirurgião, eu deveria voltar em seu consultório quando tivesse com 35 semanas para realizar um exame para saber as condições da formação pulmonar do JP e também para definirmos a equipe pediátrica que atenderia ele de imediato.  

Saí do consultório encantada. Olhei pro Amaral e disse com lágrimas nos olhos “acho que encontramos o anjo do João Pedro, por mim não precisamos procurar mais nenhum médico” e ele concordou comigo. Eu estava eufórica, já liguei pra minha mãe pra contar, liguei pra minha amiga Vivi, peguei ela no trabalho e viemos pra casa eu contando tudo da consulta pra ela. Ela me deu força, dizendo que sabia que Deus não falharia com a gente e que ele tinha colocado sim um anjo no nosso caminho.

Em menos de meia hora depois que saímos do consultório, ainda estávamos no trânsito de Porto Alegre, o Dr Lionel me ligou dizendo que já havia falado com a Dra Desiré e ela entraria em contato conosco para agendarmos a visita ao hospital e que também ele já tinha conseguido a autorização para minha gineco fazer meu parto lá e que inclusive já tinha até entrado em contato com ela e ela não se opôs. Perfeito, eu não ia precisar trocar de obstetra.

Eu não tinha reação, só conseguia chorar e agradecer. Agradeci muito ao Dr Lionel e a Deus por estar me colocando no caminho certo para o melhor pro meu filho. Quando chegamos em casa era só alegrias contando pra nossa família sobre o médico anjo que encontramos. Depois disso decidimos nem ir consultar com o Dr Cyrus que já estava marcado, já tínhamos encontrado o médico perfeito.

Dois dias depois ligaram do Moinhos agendando pra gente ir lá. Quando chegamos eu estava ansiosa. A Dra Desiré nos recebeu e junto com a Enfa. Andréa nos levou pra conhecer a estrutura da UTI Neo. Nos mostraram cada sala, explicaram com era o funcionamento na Neo, que só os pais podem ter acesso aos bebês. Nos mostraram também o corredor onde ficam expostos os quadros de fotos e histórias dos bebês que passaram pela neo. Não consegui não me emocionar vendo aquilo, ainda mais quando vi o quadrinho de uma menina que teve HDC e que hoje vive muito bem. Imaginei quando fosse a minha vez de mandar um quadrinho do João Pedro pra lá. Elas nos falaram também que a maternidade e UTI Neo estava em reformas e que no final de dezembro seria inaugurada a nova unidade, com muito mais leitos e tecnologia. Falamos sobre a possibilidade do João Pedro nascer já nesta nova unidade, já que agendamos o parto para dia 03/01/11. Como era obrigatório ser parto cesariana, tinha que ser com data e hora marcada, pra não corrermos risco de imprevistos.

Depois de nos apresentarem a UTI Neo, a Dra Desiré e a Enfa Andréa nos apresentaram à Debié e o Rafa,  pais da Cecília. A Cecília nasceu em 21/09/10, também tinha HDC e ainda estava internada, e quando a Débie e o Rafa souberam do nosso caso, quiseram nos conhecer pra conversar e nos contar sobre a experiência que estavam passando. Fomos então pra salinha dos pais onde nos apresentamos e começamos a conversar.

Foi um encontro muito emocionante. Logo que sentamos a Débie me deu de presente uma medalhinha e a oração de Nossa Senhora de Lourdes, pois foi Nela que ela se apegou. Eu chorei emocionada e chorava a cada história que eles nos contavam. Nós tínhamos muito em comum. Assim como nós eles eram um casal jovem e a Cecília era o primeiro bebê, e ver a força daqueles dois, a barra que estavam passando há quase dois meses dentro daquele hospital me deu certeza e confiança de que nós teríamos força também para fazer o mesmo. Foi muito boa nossa conversa. Eu e a Débie mantemos contato até hoje e como eu disse lá no início, ela foi uma das pessoas que me deu motivação pra escrever este blog. Ela criou um blog para a Cecília também http://ceciliabatatinha.blogspot.com/ e através dele ela conta o sucesso do caso delas.

Nossa conversa não tinha fim, eu não queria ir embora, queria ficar ali perguntando e ouvindo as coisas que eles tinham pra nos contar, mas tínhamos que ir embora. Antes de sair fomos até a porta da sala onde a Cecília estava e a enfermeira que estava com ela, pegou a Cecília no colo e nos mostrou de longe, pois não podíamos tocá-la. Quando vi aquela guria linda, bem cabeluda, de roupinha cor-de-rosa, não me agüentei. Segurei firme enquanto estava lá dentro, mas depois que saí deixei as lágrimas correrem. Não tinha como não pensar que um dia seria o João Pedro que estaria lindo daquele jeito mesmo depois das dificuldades.

Viemos pra casa e fomos contar pras nossas famílias. Minha mãe e minha irmã se emocionaram quando contei do meu encontro com a Débie. Mas enfim, as coisas estavam se organizando: o médico e o hospital estavam definidos, os exames tinham dado bons resultados, agora era só esperar as 10 semanas que ainda faltavam pra ele chegar.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Corrida contra o tempo (uma nova batalha)

Depois da notícia bombástica que o João Pedro tinha HDC, precisávamos correr atrás pra organizar tudo. Até então,  o João Pedro tinha feito um esforço imenso pra se manter com agente, mas agora tinha chegado a nossa vez de fazer de tudo pra que ele ficasse. Eu não tinha vontade de nada, não queria mais ir fazer o book de fotos que estava planejado, queria cancelar o curso de gestantes, não queria mais entrar no quartinho onde estavam as coisas dele... Nada daquilo que estava planejado eu queria fazer, parecia que assim eu ia sofrer menos.

Não saímos falamos pra todo mundo o que estava acontecendo, apenas pras pessoas mais envolvidas com o João Pedro, como os avós e os dindos. Primeiro porque não sabíamos nada sobre este problema e depois porque não queria que isso virasse uma especulação. Porque gente pra agorar tem aos montes, mesmo que inconsciente. Mas não queria ninguém comentando por aí uma coisa que nem nós sabíamos como seria. Foi a melhor coisa.

Não sabia por onde começar. Minha mãe era quem estava me ajudando, marcando meus exames e buscando na internet os contatos de hospitais. Mas quando ela ligava pra um hospital, não perguntava tudo o que eu queria saber. Então como característica de quem não gosta de esperar pelas coisas, resolvi tomar a frente.  Respirei fundo e pensei: preciso correr atrás, meu filho depende de mim. Se eu não fizer por ele, quem vai fazer? Acho que nesse dia eu me senti mais mãe. Faria qualquer coisa pelo meu filho e não podia desanimar, afinal, ele sentia todos os meus sentimentos, e se eu desmoronasse, ele podia se sentir abandonado, e isso jamais...

Fui pra internet pesquisar quais eram os melhores hospitais pra receber este tipo de caso e assim que eu localizava um hospital com UTI NeoNatal eu já ligava. Liguei para vários: Mãe de Deus, Moinhos, PUC, Divina Providência, Santo Antônio, Hospital de Clínicas, nem sei se teve mais algum, porque de tão nervosa lembro que acabei ligando mais de uma vez pra um mesmo hospital.
O melhor atendimento foi do hospital Mãe de Deus, onde imediatamente me passaram o telefone da diretora da UTI Neo. Como eu estava fazendo o cursinho de gestantes lá, acho que foi mais fácil.

Falei com a Dra Doris que me atendeu prontamente e agendou para logo a frente, uma visita nossa à UTI. Precisava ainda consultar um cirurgião, mas não tinha nem idéia de quem poderia me auxiliar. Mas no meio desse turbilhão de coisas, a querida Dra Raquel Lobato (aquela que encontrei no elevador) ligou pra minha mãe passando o telefone do Dr Paulo Roberto Ferreira. Ela não o conhecia, mas contatou vários colegas que indicaram ele como uma ótima opção. O Dr Paulo atendia no hospital da Criança Santo Antônio e imediatamente liguei para agendar com ele, porém fui barrada, pois neste hospital só é permitida consulta de menores de 18 anos, então lá o sistema não aceitava meu cadastro. Liguei então para a Dra Raquel, que por sua vez ligou para o Dr Paulo e ele emitiu uma autorização para que eu pudesse consultar com ele. A pau e corda as coisas estavam se ajeitando, mas ainda estava muito longe do que eu precisava.

Isso tudo aconteceu em uma quarta-feira e consegui consulta com o Dr Paulo só para a segunda-feira seguinte. Não gosto nem de me lembrar daquele final de semana... Foram 4 dias intermináveis, sem certeza de nada. Quando eu conversava com as pessoas, eu caia no choro. Tentamos encontrar uma forma  leve de contar isso pra minha sogra e minhas cunhadas, então deixei essa tarefa pro Amaral, que sempre é muito calmo.  Minha tia Néia quase teve um treco. Caiu em prantos e ficou desesperada. A Minha amiga Vivi me deu o apoio em silêncio, apenas me abraçou e entre lágrimas me disse: “Vai dar certo. Se ele ficou com a gente até agora, não vai ser com isso que ele vai desistir. Ele é um GUERREIRO”. Meu sogro ficou de olhos arregalados, mas acho que ele não entendeu direito o que estava acontecendo. Meu pai chegou de viagem e assim que chegou na minha casa, me abraçou e choramos muito, e ele me disse “Confia em Deus. Deixa nas mãos dEle que Ele sabe o que faz”. Foi horrível aquele final de semana.

Em fim, chegou o dia da consulta com o Dr Paulo. Cheguei na recepção do hospital Santo Antônio e era cheio de crianças, óbvio. Não tinha como eu não olhar praqueles bebês e não pensar no meu. Eu chorava toda hora. Entramos no consultório eu, o Amaral, a minha mãe e o meu pai e quando chegamos ele já sabia quem éramos e qual era o caso. Ele disse que gostou de ver a família junto, pois isso seria muito importante neste momento. Na verdade não foi uma consulta, foi uma conversa. Ficamos cerca de 40 minutos com ele e nesse tempo ele nos deu uma aula sobre HDC. Ele pegou um papel, desenhou, riscou, anotou, literalmente nos deu um aula, aliás, ele era professor da PUC e da UFRGS e me disse que tinha falado sobre este assunto ainda naquela semana.

Eu esta assustada com a realidade que ele estava me mostrando, e fiquei ainda mais quando ele me disse que não se tem ainda conhecimento de o por que acontece esse problema. Ele me disse que HDC ainda é uma incógnita para a medicina. Ele nos explicou tudo de ruim que poderia acontecer e no final, pegou aquele papel, amassou e disse: “mas nada disso pode acontecer com o teu gordo”. Como ele sabia que eu chamava o JP de gordo?? O tempo todo ele se referia carinhosamente ao JP como “teu gordo”, “teu gordinho”. Gostei disso. O Dr Paulo ainda nos falou que poderíamos sair dali odiando ele por ele nos jogar todas aquelas informações ruins, mas que era a obrigação dele nos falar aquelas coisas para que nós não nos iludíssemos. Nos disse também que mesmo diante da dificuldade, jamais poderíamos pensar que algo daria errado e que tínhamos que fazer ele ficar  maior tempo possível dentro de mim, pois se ele nascesse antes do tempo, tudo mudaria de figura.
O que me deu mais confiança foi que ele nos disse que tinha contato com crianças que ele havia operado e que elas tinham uma vida normal, sem grandes restrições.

Saí do consultório mais confiante, pois agora sabia tudo sobre o problema e estava consciente de que não dependia de ninguém, apenas da vontade de Deus. Mas ainda assim eu queria ouvir outras opiniões.

No dia seguinte fomos conhecer a UTI Neo do Mãe de Deus e fomos muito bem atendidos pela Dra Doris. Ela nos mostrou tudo, falou sobre o problema, que já tinham recebido casos assim ali e que o melhor cirurgião que conheciam para este caso era o Dr Cyrus Bastos. Ela me passou o contato dele e imediatamente liguei pra agendar. Só que ele é tão ocupado, está sempre em viagem ao exterior que só conseguimos uma data pra 3 semanas a frente, que seria meio de novembro. Marquei mesmo assim, pois ainda tínhamos tempo, afinal, o parto seria em janeiro. Para minha surpresa o Dr Cyrus não atendia pelo meu plano de saúde e com ele nós teríamos que pagar tudo. Isso não importava, estávamos preparados pra vender casa, carro e o que mais fosse preciso pra cobrir os custos.

Naquela semana fiz os outros dois exames que minha gineco tinha solicitado. A nova eco morfológica confirmou que o problema existia, mas a médica nos deu uma fio de esperança dizendo que a hérnia era pequena, pois só o estômago havia subido pra o tórax. Intestino e fígado  continuavam no abdome. Ótimo, quanto menor, melhor. No dia seguinte fiz a eco cardio e o resultado foi melhor ainda, mostrou que toda a anatomia que envolve o coração estava perfeita: tamanho dos órgãos, vasos sanguíneos, artérias... tudo estava adequado. E o melhor, neste exame mostrou que o estômago também estava no abdome, ou seja, oras ele subia, oras ele descia, e o médico nos disse que isso era muito bom, pois quanto mais tempo os órgão ficassem nos lugares certos, mais espaço sobraria para os pulmões desenvolverem. Isso foi um banho de ânimo pra gente. Dois exames seguidos que nos mostraram que a condição não era tão ruim, nossa, dentro do possível isso era maravilhoso.

Neste momento comecei a ver a coisa com outros olhos. Entendi que diante da situação que estávamos passando, poderíamos nos considerar pessoas de sorte, pois tínhamos tempo e condições de correr atrás do que fosse necessário. Mas mesmo com as boas notícias, não relaxei. Ainda queria ouvir opiniões de outros médicos e conhecer outros hospitais.

Tentei agendar com o Moinhos, mas não permitiram nossa entrada para evitar riscos de transmitirmos infecções na unidade. Entendi a posição deles, mas fiquei decepcionada. Busquei no site do meu plano de saúde, cirurgiões pediátricos que fossem credenciados. Não encontrei nenhum nome, apenas nomes de clínicas. Então eu ligava para as clínicas, perguntava o nome dos médicos e perguntava se eles faziam o procedimento de correção de HDC. Pedia ajuda para as secretárias e elas sempre ficavam de me dar retorno. Liguei para uns 10, mas apenas um me deu retorno: Dr. Lionel Leitzke. A secretária dele entrou em contato e já agendamos pra semana seguinte. Eu não estava muito confiante pois vi que a especialidade dele era urologia pediátrica, mas resolvi ir mesmo assim.

Finalmente as coisas estavam se encaixando e eu estava me sentindo um pouco melhor. O João Pedro andava agitado, acho que pela minha agitação, ele sentia meu nervosismo e acabava ficando também. Bastava a gente chegar em um consultório, hospital ou sala de exame que ele não parava de se mexer, chutava a ponto de doer minha barriga. Mas a gente tentava acalmar ele, fazendo carinho e dizendo pra ele não se preocupar que ia dar tudo certo, que ele era muito forte e que a gente ia sair desta juntos.

Minha prima Deisi me levou na casa espírita que ela freqüentava, ela disse que eu me sentiria melhor. Eu e o Amaral fomos então na casa Boa Nova em São Leopoldo, há tempo que eu queria ir, mas aconteceu no momento certo. Já na nossa primeira palestra, o assunto foi “otimismo”, perfeito para a situação. A palestra foi como um choque de realidade pra mim, chorei muito, mas percebi que ficar nervosa e me desesperar não resolver o problema. Eu precisava passar tranqüilidade pro JP pra que ele se sentisse bem. E então mudei de postura. Permiti que Deus entrasse na minha vida e passei a prestar mais atenção nos sinais que ele me mandava, e com isso conseguimos seguir nossa maratona com mais tranqüilidade e serenidade.

Segue contatos importantes: 

Dr Lionel Leitzke
Tel: (51) 3222-4227

Dr Paulo Roberto Ferreira
Tel: (51) 3214-8000
Hospital Santo Antônio (Santa Casa)

Dr João Cyrus Bastos
Tel: (51) 3339-5782
Hospital da PUC

Hospital Mãe de Deus
Tel: (51) 3230-6000

Hospital Moinhos de Vento
Tel: (51) 3314-3434

Centro Espiritual Boa Nova
Tel: (51) 3589-7771

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O que é Hérnia Diafragmática Congênita?

Este foi o melhor artigo que encontrei que explica o problema (http://www.fetalmed.net/hernia-diafragmatica-congenita.html)

O diafragma é um musculo que separa o tórax (coração e pulmões) do abdôme (estômago, fígado, intestino e outras vísceras). Além de separar as duas cavidades o diafragma é também o músculo mais importante envolvido nos movimentos respiratórios. Uma hérnia diafragmática é uma malformação do músculo (um pequeno defeito ou "buraco"), permitindo que o conteúdo da cavidade abdominal passe para o tórax.
No início da gestação, quando o bebê ainda está se formando, existe um "buraco" no diafragma. Isto é normal, mas este "buraco" normalmente se fecha no terceiro mês de gestação. Isto acontece em cerca de 1 em cada 2.500 gestações. O fato dos órgãos abdominais terem subido até o tórax impede o desenvolvimento adequado dos pulmões, causando uma condição conhecida como hipoplasia pulmonar. Isto significa que os pulmões são menores do que eles deveriam ser.

Quais são os riscos envolvidos?
Durante a gestação, o feto não precisa dos pulmões para respirar e por isso a hérnia diafragmática não tem muitas manifestações durante a vida intra-uterina. Imediatamente após o nascimento, o recém-nascido precisa usar os pulmões para obter oxigênio e se eles estiverem muito pequenos (hipoplásicos) isto poderá causar uma condição chamada de insuficiência respiratória. Os vasos sanguíneos dos pulmões também serão muito pequenos, e haverá dificuldade de circulação neles, causando um outro problema chamado de hipertensão pulmonar.
Recém-nascidos com hérnia diafragmática requerem cuidados especializados e suporte de neonatologistas. Assim que o problema respiratório estiver estabilizado um cirurgião pediátrico irá realizar uma cirurgia para corrigir a hérnia diafragmática, colocando as visceras abdominais novamente no abdome e fechando o defeito do diafragma.
Os bebês com hérnia diafragmática devem nascer em hospitais de alta complexidade para que o tratamento adequado seja oferecido. Apesar dos avanços técnicos da medicina, mesmo nos melhores hospitais do mundo, alguns bebês com hérnia diafragmática não irão sobreviver devido a gravidade dos problemas pulmonares.
A probabilidade de sobrevida está relacionada com o tamanho dos pulmões. Quanto menor for o pulmão residual, pior é o prognóstico. Por isso alguns bebês que apresentam quadros extremamente graves podem se beneficiar de cirurgia intra-uterina.
Como é feito o diagnóstico da hérnia diafragmática?
Durante a gestação o diagnóstico poderá ser feito pela ultrassonografia. Após o nascimento o diagnóstico será feito pelo pediatra por meio do exame físico e radiografia de tórax.
Depois do diagnóstico é necessário mais algum exame especial?
Para realizar um diagnóstico adequado é necessário que o seu exame seja realizado por alguém com treinamento em medicina fetal. O processo de avaliação irá envolver os seguintes passos:
·         estabelecer se a hérnia diafragmática é um defeito isolado ou se existem outras anomalias associadas
·         avaliar o grau de acometimento pulmonar e as chances de sobrevida
Para isso serão necessários alguns exames como:
·         ultrassonografia morfológica
·         amniocentese para realização de cariótipo
·         ecocardiografia fetal
·         ressonância nuclear magnética
Após avaliação completa poderá ser dado um parecer sobre o caso.
Quais são as possibilidades de condução do caso durante a gestação?
Os casos de hérnia diafragmática poderão ser conduzidos da seguinte forma, dependendo do caso:
·         conduta expectante até o termo (gestação completa) com tratamento apenas após o nascimento
·         cirurgia fetal intra-uterina com oclusão traqueal por fetoscopia (reservado para os casos de pior prognóstico)
Como é o tratamento após o nascimento?
A hérnia diafragmática congênita é um problema grave e requer internamento em UTI neonatal. Bebês com hérnia diafragmática geralmente não conseguem respirar sozinhos devido a hipoplasia pulmonar. A maioria dos bebês irá necessitar de uma máquina para respirar chamado ventilador. Alguns bebês irão ainda precisar ainda de um outro aparelho chamado ECMO. O ECMO (Circulação Extracorpórea com Oxigenador de Membrana) faz temporariamente a função do coração e pulmões: oxigenar o sangue e bombear ele no corpo. O ECMO poderá ser utilizado temporariamente até que o problema pulmonar esteja estabilizado.
Finalmente após a estabilização do problema pulmonar a hérnia será corrigida com cirurgia. As vísceras serão recolocadas no abdome e o defeito no diafragma suturado.